No final, não faz diferença.

Fim de festa. Roupas amarrotadas, penteados desfeitos, suor, cansaço.
Elas desceram do salto e eles desabotoaram a camisa. Todos, menos você.
Ficou no canto, observando. Esquadrinhando tudo que eu fazia.
Me assistiu dançar a noite toda, no começo sozinha, mas depois com a agradavel companhia do teu melhor amigo.
Observou cada detalhe, com a mínima precisão, mas não se moveu do canto onde se apoiava.
Apesar de ter visto minha mão esquerda desfilando sem aliança, não fez esforço pra entender. Apenas ficou ali, estático, me olhando como se filmasse um crime, do qual depois me acusaria. E esperou.
Esperou até que a festa acabasse, até que todos os carros tivessem ido embora.
Esperou até que ficassemos só nós dois.
Então virou as costas e foi andando. Sem vacilar, sem olhar para trás. Quando chamei seu nome, percebi seu braço descendo junto ao corpo e deixando cair na beira da rua alguma coisa. E essa coisa refletiu a pouca iluminação do asfalto. Cheguei mais perto e reconheci meu nome gravado dentro.
Ali, no meio da madrugada, me deixou sozinha. Sozinha com as nossas alianças, com meu remorso naturalmente passageiro e com minha traição.
Sozinha, como no começo da festa. Pra falar a verdade, não fez diferença.
Antes que o sol raiasse, já estava acompanhada novamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário